Juíza, escritora e roteirista, Andréa Pachá envolve um público heterogêneo em reflexões sobre dramas familiares
Por sua formação como roteirista, na Casa das Artes de Laranjeiras, a Juíza de Direito Andréa Pachá afirma ter um olhar de dramaturga, uma tendência a roteirizar as situações que testemunha. “Não havia um dia que não tivesse vontade de ter uma câmera na mão para filmar os casos com os quais me deparava na sala de audiências”, revela a magistrada. E foi por meio dessa intimidade com a arte que nasceu o livro “A Vida não é justa – Encontros e desencontros, tragédias e comédias das histórias da vara de família recontadas com emoção e humor pela juíza”. São 33 histórias colhidas entre as mais de 18 mil audiências em varas de família.
As histórias relatadas no livro “A vida não é justa” serviram de base para o debate, realizado na última quinta-feira (14/08), no auditório da JFCE. Participaram do momento a autora, o Diretor do Foro da JFCE, Juiz Federa Leonardo Resende e a professora de Filosofia da Unifor, Sandra Helena, além de uma plateia formada por juízes, servidores, advogados e estudantes. A magistrada destacou que seu cotidiano é lidar com a realidade dilacerada das famílias e com a esperança delas de que a Justiça restabeleça os laços de amor desfeitos. Mas o que a Andréa Pachá constatou em todos esses anos é que “…lamentavelmente a vida, na maior parte das vezes, não é feita de reconciliações. Tenho mais histórias de fim do que de recomeços”. Ela afirma que a maioria das audiências acaba com uma enorme sensação de desamparo.
Durante a conversa com a plateia, a juíza destacou que a sociedade atual impõe um padrão de felicidade e de velocidade extremamente difíceis de acompanhar. “Nas redes sociais as pessoas estão o tempo inteiro cercadas de amigos, sempre sorrindo e festejando. Ninguém tem mais tempo para viver seus lutos pessoais. Acontece uma tragédia e de imediato tem que ser ‘bola pra frente’…”, criticou a autora.
Segundo Andréa Pachá, as pessoas não conseguem mais lidar com suas próprias dificuldades. Há uma terceirização dos problemas familiares. Delega-se a solução para as escolas, para os terapeutas e para a Justiça. “Vivemos hoje uma judicialização da vida privada. Tudo se leva ao Judiciário. Os pais discutem judicialmente até a escola onde os filhos vão estudar. Isso era impensável há vinte anos.” Para a juíza, o que vemos é uma sociedade infantilizada, na qual ninguém consegue se responsabilizar pela própria vida.
Sobre a juíza e escritora
Andréa Pachá é juíza de Família do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Foi Conselheira do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), responsável pela criação do Cadastro Nacional de Adoção, pela Comissão de Conciliação e Acesso à Justiça e pela implantação das Varas de Violência contra a Mulher em todo o país. Presidiu em 2008 e 2009 duas jornadas sobre a Lei Maria da Penha, com objetivo de discutir aspectos doutrinários e traçar políticas para especialização das Varas. Foi vice-presidente de Comunicação da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) e integrou a equipe que produziu a Cartilha sobre as novas regras para a adoção. Coordenou a campanha pela Simplificação da Linguagem Jurídica, publicando uma cartilha para entender o ‘juridiquês’. Andréa também é convidada para dar palestras sobre casos de violência doméstica e tráfico de mulheres. Foi produtora de teatro e trabalhou com os diretores Amir Haddad, Aderbal-Freire Filho, Luis Arthur Nunes e Rubens Correa. Atualmente está à frente de uma vara de órfãos e sucessões e já tem planos para lançar um próximo livro.
O livro
“A vida não é justa – Encontros e desencontros, tragédias e comédias das histórias da vara de família recontadas com emoção e humor pela juíza”, 1ª ed., Editora Agir, 2012, 192 p.