Para começar, um exercício bem simples de meditação. Respiração, postura e percepção… Já não havia mais barulho, agitação ou pressa, apenas um auditório silencioso e atento às sábias palavras que seriam transmitidas pela Monja Coen da Comunidade Zen-Budista. Com sua voz doce e serena, ela envolveu a todos os presentes falando sobre satisfação pessoal, diversidade, meditação, alegria de viver, corrupção e cultura de paz. “Comece você mesmo a mudança! Não espere que os outros mudem”, alertou.
“Vocês servidores lidam diariamente com dramas e problemas, que chegam ao Judiciário pela impossibilidade do diálogo entre as pessoas. Nós absorvemos essa dor do outro, pois somos todos inter-relacionados, somos uma única família, a família humana”, refletiu. Em contrapartida, a Monja mostrou a importância de dar luz às coisas boas da vida, de valorizar as qualidades dos outros. “É essencial encontrarmos nosso eixo de alegria, para que vivamos com plenitude”. E completou dizendo que o estado de saúde é gerado pelo contentamento, e que apesar de todos os problemas temos que cultivar a alegria de viver.
A Monja Coen tocou em um assunto que aflige nossa sociedade, a corrupção. Mas deu um significado bem diferente do que geralmente usamos. Ela analisou a etimologia da palavra: “cor”= coração; “rupção”= rompido. Disse que quando o coração está consumido pelo ego só quer beneficiar a si. “Quando penso só em mim, eu perco. Quando penso sem nós, eu ganho”, concluiu. A Monja ressaltou a necessidade de cultivarmos uma cultura de paz e de não violência, inclusive em nossos relacionamentos de trabalho e pessoais. “A área do cérebro que fica feliz quando recebe algo é a mesma área que fica feliz quando dá algo”, ensinou.
Ao final da palestra, a juíza federal Germana Moraes presenteou a Monja Coen com uma cruz inca, que simbolizou a gratidão de todos os presentes. A cruz foi trazida de uma tribo indígena pura, que habita a Cordilheira dos Andes.
Um pouco da biografia da Monja Coen
Nascida Cláudia Dias Batista de Souza, em 30 de junho de 1947, a Monja Coen é a liderança mais conhecida do budismo no país hoje.
Foi ordenada monja em 1983, deixando para trás uma vida agitada, em que trabalhou como jornalista e se envolveu em atividades políticas e da contracultura.
A virada se deu em 1978, ao conhecer o zen-budismo quando vivia nos Estados Unidos, aos 31 anos de idade. Após a ordenação, passou 12 anos em mosteiros no Japão, antes de voltar ao Brasil. Aqui, em 1997, foi a primeira pessoa de origem não japonesa, e mulher, a presidir a Federação das Seitas Budistas do Brasil e, em 2001, fundou a Comunidade Zen Budista, em São Paulo.
Aos 65 anos, segue manifestando a essência de seu nome de batismo religioso. O termo “Coen” é composto de dois caracteres chineses: co, que significa “só”; e en, que pode ser traduzido por “algo completo”. Ou seja, a Monja Coen é alguém que vive “só e completa”. Com um detalhe: estar plena consigo mesma não a impede de, dia a dia, se dedicar ao próximo. “Temos que nos tornar uma ponte que auxilia outros em sua travessia no mar de sofrimento para o espaço de comunhão e compreensão”, diz.