Conciliando o interesse pelo cordel e a atividade de magistrado, o juiz Marcos Mairton já publicou várias obras
A responsabilidade do juiz titular da 23ª Vara Federal, neste Município, Marcos Mairton da Silva, 46 anos, vai muito além das 15 audiências realizadas diariamente e os mais de quatro mil processos a apurar juntamente com um colega magistrado nesta cidade do Sertão Central. Apesar da exaustiva rotina judiciária, este fortalezense ainda tem disposição para criar cordéis. Hoje, já são dezenas de publicações. Algumas delas já estão sendo utilizadas como material paradidático, em escolas de Iguatu, no Ceará, e Cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco. Ele ainda tem o seu próprio blog, onde divulga suas obras e incentiva os trabalhos de outros amantes da literatura nordestina.
Quando herdou dos pais o hábito de ler cordéis, além do gosto pelas estórias rimadas, escritas na maioria das vezes por poetas populares, Marcos Mairton percebeu o dom de criar seus próprios contos. Mas o destino havia lhe reservado muitas surpresas, pessoais e profissionais. Apesar do talento, faltava a oportunidade para publicar suas primeiras estrofes. Somente oito anos após se formar em Direito pela Universidade de Fortaleza (Unifor), e outros cinco após iniciar sua carreira de juiz federal, já no exercício do magistrado, finalmente conseguiu publicar seu primeiro cordel, intitulado “O advogado, o diabo e a bengala encantada”, em 2005.
Sentença
Mas seu maior desafio no mundo literário surgiu quando decidiu proferir sua primeira sentença em versos, em fevereiro de 2002, quando ainda estava em estágio probatório. Outro juiz federal, Carneiro Albim, então vice-presidente do Tribunal Federal do Rio de Janeiro, o felicitou pela inovação. Em 2005, “A Sentença” virou folheto. Atualmente o texto está disponível no blog dele, Mundo Cordel.
A ousadia lhe rendeu elogios e a admiração de um colega do Poder Judiciário, o juiz Nagibe Melo Jorge, que estava escrevendo um livro jurídico sobre técnicas na elaboração de sentenças cíveis. Marcos Mairton ofereceu-se a ajudá-lo. Acessou o sistema de processos eletrônicos, apanhou o primeiro que estava pronto e rapidamente escreveu um cordel sobre uma sentença civil.
Atividade artística
Desde então, sua arte vem se fortalecendo. Uma de suas obras, “Os dois soldados”, um cordel ilustrado publicado pela Ensinamento Editora, foi inserida no programa Cesta Básica da Cultura e do Conhecimento (CBCC). De acordo com o autor, trata-se de um projeto de incentivo às empresas. Elas adquirem os exemplares e distribuem para os funcionários, trabalhadores, juntamente com os alimentos.
O juiz recorda de citações de seus trabalhos inclusive no continente europeu. Ele se refere ao cordel ilustrado “Uma aventura na Amazônia”, da editora Imeph, com ilustrações de Rafael Limaverde. A obra utilizada em uma palestra de um professor de Letras, na Universidade de Coimbra, em Portugal.
Marcos Mairton também se dedica a contos, crônicas e até compõe músicas. Os cordéis, podem ser adquiridos na Livraria Oboé ou então na Livraria Cultura, em Fortaleza. Boa parte do material também está disponível em seu blog.
FIQUE POR DENTRO
Sentença proferida em forma de cordel
Um dos momentos que mais marcou a atividade artística do juiz Marcos Mairton da Silva foi ter proferido, em 2002, uma sentença em forma de cordel. Em 2005, o texto tornou-se folheto e sua versão integral pode ser encontrada no blog do magistrado. Trecho da publicação:
“A poesia é presente No olhar do acusado Seja quando ele é culpado, Seja quando é inocente. Na testemunha que mente, E na que fala a verdade. Na imparcialidade Que todo juiz queria. Veja quanta poesia Em nossa realidade.”