A Justiça Federal no Ceará receberá, dia 19 de outubro, às 10h, o físico Cláudio Lenz César, com a palestra “Antimatéria: mais ciência que ficção”. Atualmente o palestrante escreve um livro sobre antimatéria para leigos, realiza pesquisas sobre o assunto no CERN (European Laboratory for Particle Physics) e é professor do Instituto de Física da Universidade do Rio de Janeiro. Com dois pós-doutorados e mais de quarenta artigos publicados em revistas internacionais, Cláudio Lenz é cearense e iniciou sua vida acadêmica no CEFET-CE com formação no curso de Técnico em Eletrotécnica, lecionando posteriormente na mesma instituição.
Este encontro faz parte das “Sextas Culturais”, momentos multidisciplinares idealizados pelo diretor do foro da Seção Judiciária do Ceará, juiz federal Augustino Lima Chaves. Na última quinta-feira, 11 de outubro, contamos com a presença do Presidente da Ordem dos Advogados de Portugal, Rogério Alves. Desde abril as palestras já reuniram nomes como: o presidente de políticas públicas do Greenpeace, Sérgio Leitão, o deputado federal Ciro Gomes, desembargador federal Geraldo Apoliano, o Sociólogo Eduardo Diatahy, o juiz de direito Martônio Vasconcelos, o professor Pablo Stolze e o mestre internacional de xadrez Eduardo Limp, entre outros. O evento acontece no auditório do edifício sede da Justiça Federal (Praça General Murilo Borges, s/n, Centro, 5º andar). As palestras são gratuitas e dão direito a certificado de participação. Informações: (85) 3452-2636/3452-2626.
Entrevista com o físico Cláudio Lenz César
O que é antimatéria e por que é confundida com ficção?
Antimatéria é essencialmente a matéria com a carga trocada. Assim como existe o elétron, que é negativo, existe uma partícula que é como um espelho do elétron, que é em tudo igual ao elétron, menos na carga que é positiva ao invés de negativa, e foi batizada de Pósitron ou elétron positivo. Antimatéria é a matéria mais exótica manipulada em laboratórios pois não ocorre naturalmente no Universo. Quando matéria e antimatéria se encontram, elas se aniquilam liberando essas massas em muita energia. É exatamente essa falta de ocorrência natural de antimatéria no Universo que nos deixa, a nós Físicos, perplexos. Não temos um bom modelo para o Universo e seu início – o Big-Bang não explica nossa origem. Assim, tentando clarificar essa questão, é que resolvemos construir átomos de antimatéria e testar algumas leis muito básicas da Física com eles para verificar, ou não, a adequação dos modelos da Física. Se encontrarmos uma diferença entre o átomo e o anti-átomo, teríamos que modificar substancialmente a Física! Poderia ser uma grande revolução científica! Por ser essa matéria tão exótica, a antimatéria tem sido usada freqüentemente na Ficção Científica, como na série “Star-Trek” ou em livros como “Anjos e Demônios”, de Dan Brown. A nave “Enterpriser” do Star-Trek é movida a um reator de matéria e antimatéria. Realmente, como combustível, a antimatéria é muito mais eficiente e energético que qualquer outro existente: químico, fissão ou fusão nuclear. A NASA considera que só a antimatéria poderia viabilizar, como combustível, uma futura missão humana para se chegar a Marte ou além do sistema do solar, por exemplo. A ficção de Dan Brown usa uma garrafa de antimatéria, como a que manipulamos no CERN (Laboratório Europeu de Física de Partículas), como uma bomba. É importante frisar que todo o uso realizado e previsto possível de antimatéria é benéfico, com seu uso corrente em exames médicos como o PET Scan ou possível terapia de Câncer com antipróton. Para desclassificar a proposta de uma bomba com antimatéria, basta lembrar que se usássemos toda a antimatéria produzida pelo CERN em seus 50 anos de funcionamento só conseguiríamos suficiente para aquecer um cafezinho para poucos amigos.
Por que o senhor decidiu escrever um livro popularizando o tema para leigos?
É difícil falar sobre o desenvolvimento de pesquisas que estão em andamento, tanto por não se ter ainda uma perspectiva histórica como por não se ter muito tempo para tal. No entanto, trazer ao público uma compreensão do que se faz nos laboratórios e sua importância para a Ciência e humanidade é fundamental. O lançamento de uma nova série de livros, “Ciência no Bolso” e o convite do editor me fez encarar o desafio de escrever este livro neste momento. Escrevi metade dele quando em férias no Ceará, em janeiro do ano passado. Acho que só nas próximas férias, em alguma praia tranquila do nosso litoral vou conseguir finalizá-lo. Obviamente o tema é fascinante e incita discussões filosóficas interessantes.
Como o senhor avalia as pesquisas na área de tecnologia realizadas atualmente no Ceará? Destacaria algum trabalho?
Sempre que posso venho ao Ceará e tenho vários contatos tanto no Departamento de Física da UFC quanto no CEFET-CE. O Ceará tem excelentes pesquisadores, envolvidos em projetos importantíssimos em várias áreas, de tecnologia de satélites, biotecnologia a nanociências, e estudo de águas. No entanto, estou longe de ser uma pessoa ideal para traçar este panorama e nem ousaria destacar algum trabalho pois conheço muito pouco. No entanto, quando você pergunta por Tecnologia, posso só dizer que o Brasil é extremamente carente de desenvolvimento de tecnologia. A maior parte da tecnologia, que vira produtos, nos países desenvolvidos, vem das empresas e de alguma forma temos muito pouca pesquisa, desenvolvimento e inovação nas empresas no Brasil, com poucas mas dignas exceções. Isto é muito ruim pois a nossa Ciência que é de boa qualidade não está se traduzindotambém em valor econômico para a sociedade. É importante que o País invista em Ciência básica e possa usufruir dos frutos da Ciência Aplicada e Inovação, mas para isso tem que ter centros de pesquisa empresariais. A questão conjuntural, que passa pela macroeconomia à mera falta de cultura tem de alguma forma impedido este passo importantíssimo. Mas, a FINEP sob a visão de Sérgio Resende tem investido em mudar esta realidade. No entanto, sou mais otimista em formar cientistas empreendedores nas nossas pós-graduações que converter nossos empresários investir em pesquisa aplicada e inovação.
Que pontos serão abordados na palestra do dia dezenove? Que tipo de público o senhor imagina atingir?
Falarei um pouco sobre Ciências, em geral, e em particular sobre Antimatéria, este tema intrigante e tão propagado pela ficção científica. A palestra é voltada para leigos que tenham feito um curso de Química do Segundo Grau, ou tenham tido curiosidade de ler sobre o que é um nível quântico. Irei desmistificar um pouco a antimatéria mostrando seu uso atual em exames médicos, mas depois, volto a mostrar que estamos ainda longe de desvendar o “segredo” da antimatéria! Porque não há ocorrência natural de antimatéria no Universo?