No famoso seriado de tv americano “Jornada nas Estrelas”, a nave Enterprise usava a antimatéria como combustível. No livro “Anjos e Demônios” de Dan Brown, uma garrafa de antimatéria é usada para fabricar uma bomba capaz de destruir uma cidade inteira. O Antimonitor, personagem vilanesco da DC Comics, possuía uma canhão de antimatéria capaz de destruir cinco universos de uma vez só. Mas já se foram os tempos em que a antimatéria freqüentava só as obras de ficção. Hoje em dia ela é medida, analisada e classificada. Tudo como manda o rigor científico. Pelo menos foi isso que mostrou o físico cearense Cláudio Lenz César, na palestra “Antimatéria: mais ciência que ficção”, proferida na Seção Judiciária do Ceará na última sexta-feira (dia 19).
Considerado um dos físicos brasileiros mais influentes na temática, Cláudio Lenz César participou, por exemplo, da criação do primeiro átomo de antihidrogênio em 2002. A experiência foi realizada nos laborátorios do CERN (Conselho Europeu para Pesquisa Nuclear), em Genebra. O mesmo CERN responsável pela criação da world wibe web (internet) e que aparece também no já citado “Anjos e Demônios”. “A ficção de Dan Brown usa uma garrafa de antimatéria, como a que manipulamos no CERN, como uma bomba”, Lenz informa. As interconexões entre realidade e ficção entretanto, frisa o físico, não sustentam a tese de uma bomba com antimatéria. “Basta lembrar que se usássemos toda a antimatéria produzida pelo CERN em seus 50 anos de funcionamento só conseguiríamos suficiente para aquecer um cafezinho para poucos amigos”, defende.
Mas, afinal, o que é antimatéria? “É essencialmente a matéria com carga trocada”, explica. “Assim como existe o elétron, que é negativo, existe uma partícula que é como um espelho do elétron, que é em tudo igual ao elétron, menos na carga que é positiva ao invés de negativa, e foi batizada de Pósitron ou elétron positivo. Antimatéria é a matéria mais exótica manipulada em laboratórios pois não ocorre naturalmente no Universo. Quando matéria e antimatéria se encontram, elas se aniquilam liberando essas massas em muita energia”, completa. A grande expectiva com relação aos estudos com antimatéria, segundo Cláudio Lenz, seria a possbilidade do desvendamento do maior mistério do Universo. Ou seja, o mistério de como se deu a própria criação deste.
Cláudio Lenz não confia na Teoria do Big Bang para explicar o mundo e as estrelas. Segundo ele, “nós não temos uma boa história para contar sobre o início do Universo”. Isso porque, se no início de tudo havia tanta matéria quanto antimatéria, então, como se pergunta Lenz: “Cadê a antimatéria?”. “É exatamente essa falta de ocorrência natural de antimatéria no Universo que nos deixa, a nós Físicos, perplexos. Não temos um bom modelo para o Universo e seu início – o Big-Bang não explica nossa origem. Assim, tentando clarificar essa questão, é que resolvemos construir átomos de antimatéria e testar algumas leis muito básicas da Física com eles para verificar, ou não, a adequação dos modelos da Física”, afirmou.
Sextas Culturais
O projeto “Sexta Cultural” compõe-se de palestras multidisciplinares idealizados pelo diretor do foro da Seção Judiciária do Ceará, juiz federal Augustino Lima Chaves. Além do físico Cláudio Lenz, já participaram do projeto nomes como: o Presidente da Ordem dos Advogados de Portugal, Rogério Alves, o presidente de políticas públicas do Greenpeace, Sérgio Leitão, o deputado federal Ciro Gomes, o juiz de direito Martônio Vasconcelos, o mestre internacional de xadrez Eduardo Limp, entre outros. O evento acontece sempre no auditório do edifício sede da Justiça Federal (Praça General Murilo Borges, s/n, Centro, 5º andar). Informações: (85) 3452-2636/3452-2626.